Coronavírus: Lisboa está às moscas
A cidade de Lisboa, tal como grande parte do território português, florescia com a atividade turística, o maior setor exportador em Portugal. Agora, tem um grave problema para resolver - como irá recuperar do grande tombo provocado pelo confinamento inesperado, que encerrou as fronteiras e esvaziou o país de estrangeiros?

Texto, Fotos e Vídeos: Patrícia Paixão

Miguel Barros, proprietário do Café da Cusca, situado no centro histórico de Lisboa, ainda não sabe quanto tempo resistirá. Abriu o pequeno café-restaurante especializado em refeições tipicamente portuguesas, confecionadas à vista de todos, há dois anos e meio, em pleno boom turístico.

Desde 2016 que Portugal assiste a uma enxurrada de prémios largamente anunciada pelos órgãos de comunicação social do país. Todos os anos é indicado para o pódio dos melhores destinos turístico. Os World Travel Awards, apresentados como os Óscares do Turismo e criados, em 1993, por uma empresa de eventos sediada no distinto bairro de Mayfair, em Londres, são os mais generosos. Distinguem Portugal em várias categorias, mencionando Lisboa, pelo menos, em dois anos consecutivos: “Melhor Cidade Destino”, em 2018, e “Melhor Destino City Break”, em 2017 e 2018. Em 2019, os leitores da Condé Nast Traveler, uma revista norte-americana especializada em viagens, elevam o país para o terceiro lugar da lista dos “Melhores Destinos do Mundo”.

As receitas do turismo vêm aumentando todos os anos e são as grandes responsáveis pela recuperação económica do país depois do tombo provocado pela crise do subprime, em 2008. O Banco de Portugal (BP) garante que, de 2013 a 2019, as receitas arrecadadas pelo turismo duplicaram: de 9 mil milhões para mais de 18 mil milhões de euros.

Até que, subitamente, a 16 de Março, é decretado um confinamento, anunciado quatro dias antes pelo primeiro-ministro António Costa. Nesse dia, Portugal regista a primeira morte provocada pelo coronavírus, um homem de 80 anos que a Direcção-Geral de Saúde(DGS) diz ter outras patologias associadas. Há 331 infetados confirmados, mais 86 do que no dia anterior, 139 estão hospitalizados e 18 precisam de cuidados intensivos.

Assiste-se a uma crise mundial de saúde pública e o curso da linha ascendente do turismo inverte para níveis próximos do zero. Portugal perde cerca de 97% dos turistas que costumavam visitar o país em Abril, revela um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgado a 17 de Junho, que também diz que a atividade turística foi praticamente nula durante o confinamento. Entre Janeiro e Abril, a queda é de 45%, relativamente aos números do último ano. A 1 de Julho, o INE avança que foram destruídos cerca de 192 mil empregos, de Fevereiro até Maio, um acréscimo de 4% na taxa de emprego. No entanto, ressalva que o número pode ser bastante maior porque a taxa apenas contabiliza as pessoas ativamente à procura de emprego. E há uma grande parte da população ainda com restrições na mobilidade.

O BP manifesta o seu pessimismo: segundo os seus cálculos, as receitas turísticas sofrerão uma quebra de, pelo menos, 60%. Mas pode vir a ser muito pior: Em 21 de junho, o país já tem o segundo pior rácio de novos casos na UE, apenas superado pela Suécia, situação que poderá afetar negativamente a ligeira recuperação que o sector do turismo espera para este verão.

Miguel Barros serve café no seu estabelecimento.

Miguel, que levantou o seu estabelecimento numa zona da cidade cada vez mais adaptada às exigências dos turistas estrangeiros, foi obrigado a encerrar e a dispensar a cozinheira. Reabriu a 4 de Maio, quando o país começa a desconfinar. “Antes não valia a pena. Este bairro vive de atividade turística. Sem estrangeiros, sobram os trabalhadores dos Tribunais e dos Ministérios que há por aqui. Mas tanto uns como outros, desapareceram”, diz. Arranca a vender apenas para take-away. “Montei uma mesa à porta, a fazer de balcão, os clientes estavam proibidos de entrar. Não fazia dinheiro suficiente para pagar a renda, nem as contas de água, luz e gás.”

A 18 de Maio, passa a atender clientes dentro do restaurante, toma conta do atendimento ao público e da cozinha. “Hoje é arroz de pato. Mas já sei que venderei à volta de 40% do que era costume,” adivinha, meio desanimado, olhando em redor para destacar as cadeiras sem gente do seu pequeno café vazio.

“Tinha esperança de que, se aguentasse o período do confinamento, a normalidade regressaria.”

E, com ela, os grandes grupos de estrangeiros que costumavam palmilhar as ruas estreitas do bairro. Resta-lhe esperar pelos trabalhadores das instituições públicas, que abrirão a 1 de Julho. “Não sei se serão suficientes para compor a casa mas estou a pagar para ver”, conclui.

A atividade turística é o maior setor económico exportador do país, revelam os dados de 2019 do Turismo de Portugal, um instituto do Estado que apoia e promove a atividade:

Mas o mundo vira-se ao contrário, os aviões começam a estacionar, as viagens e as estadias em unidades hoteleiras são canceladas. O país esvazia-se de estrangeiros, os habitantes locais fecham-se em casa, as escolas encerram assim como todo o comércio e serviços considerados não essenciais.

No dia 18 de março, ocorre a segunda morte de covid-19: o presidente do conselho de administração do Banco Santander sucumbe, as autoridades sanitárias acreditam que ele contraiu o vírus numas férias de neve no norte de Itália. Os números escalam a uma velocidade alarmante: 642 novos casos de infeção confirmados, 89 doentes internados no hospital, dos quais 20 nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anuncia que, no dia seguinte, declarará o primeiro estado de emergência, instalado para durar 15 dias mas que sofrerá duas renovações e estender-se-á até 3 de Maio. Quando entra em vigor, a 19 de março, o número de infetados atinge 785, mais 143 do que no dia anterior, e os hospitais têm 89 internados, 20 dos quais na UCI. O país regista 3 mortes.

Como se desenvolveu uma piada nacional

Com o estado de emergência instalado, o Governo pode estabelecer medidas que não precisam de respeitar os direitos fundamentais salvaguardados na Constituição Portuguesa e começa por impor o confinamento obrigatório. Abriu algumas excepções: idas ao supermercado, postos de gasolina, restaurantes de take-away, ao local de trabalho (no caso de trabalhadores de comércio e serviços essenciais), para prestar assistência a um familiar, para dar uma pequena volta ao quarteirão de residência ou passear os cães. Há quem elabore planos para poder disfrutar um pouco mais da temperatura amena e do sol radioso acabadinhos de chegar com a Primavera. O “vou arranjar uma trela e se a policia me perguntar o que ando a fazer na rua, respondo que ando à procura do meu cão que acabou de se soltar,” transformou-se numa espécie de anedota nacional.

Abril chega com subidas em flecha e a DGS assinala o pico da pandemia: a média de novos casos anda pelos 560 diários, há perto de 27 mortes por dia. No dia 1 de abril, 726 doentes estão internados, 230 dos quais na UCI.

O Presidente faz a primeira renovação do estado de emergência a 3 de Abril e explica estar preocupado com a época da Páscoa, tradicionalmente comemorada com reuniões de família, apelando ao bom-senso dos portugueses para as evitar. Proíbem-se as deslocações entre concelhos, excepto para os trabalhadores de serviços e comércio essenciais, obrigados a transportar um documento de justificação da entidade patronal. Na região de Lisboa, os carros que tentam atravessar as pontes 25 de Abril ou Vasco da Gama são parados pela polícia para justificarem a viagem e enviados para trás, caso a justificação não cumpra as regras estipuladas para o confinamento.

A 30 de Abril, o cenário é preocupante: os doentes no hospital aumentam para 968 mas o número dos que precisam de cuidados intensivos diminuiu para 172.

O país sente-se gaseificado por notícias constantes e contraditórias sobre potenciais tratamentos e vacinas, não mantém grande esperança na solidariedade da União Europeia e começa a perceber que o desastre económico está mesmo ao virar da esquina.

O primeiro-ministro vê-se obrigado a garantir que tudo se resolverá e a justificar a necessidade das medidas rigorosas várias vezes, numa tentativa de acalmar as preocupações nacionais. “Não vale a pena ter pressas. Este momento ainda não é o momento das pressas, ainda não é momento de vermos a luz ao fundo do túnel. Sabemos que no fundo do túnel há uma luz, mas ela ainda não está à vista”, diz António Costa, numa entrevista à rádio TSF, dois dias antes da renovação, pela segunda vez, do estado de emergência.

Mesmo assim, durante as seis semanas em que a população está confinada, as autoridades policiais detêm perto de meio milhar de pessoas por desobediência às restrições impostas: infetados apanhados fora de casa, grupos que festejam na rua e 2.418 lojas que deviam de estar fechadas, são alguns dos abusos registados.

Com o fim do estado de emergência, decreta-se o estado de calamidade, a 3 de Maio, A suspensão dos direitos fundamentais nos termos da Constituição já não é permitida e as restrições são muito menores. Apesar do ligeiro abrandamento dos números (há 25.282 casos confirmados, 1043 mortes, 856 doentes internados, dos quais 144 estão nas UCI), é o momento de começar a aliviar as duras regras do confinamento.

O plano de desconfinamento prevê três fases – a primeira a 3 de Maio, a segunda a 18 e a terceira a 1 de junho. As lojas e os serviços reabrem e as atividades sociais são repostas. Mas para chegar à fase 2 e 3 será preciso que a pandemia continue controlada. António Costa avisa que, se for necessário, recuará, segundo as suas palavras, “sem vergonha”. Os números mantêm-se estáveis e, entre fases, há uma diminuição dos indicadores mais importantes para os portugueses: número de mortes, número de doentes internados e número de doentes nas ICUs.

Entre 3 e 18 de Maio a média de novos casos confirmados é de 245 por dia, a média de mortes está em cerca de 11 por dia. A 18 de Maio, há 628 doentes internados, 105 dos quais nas UCI.

Uma rua vazia no Bairro Alto.

As luzes ao fundo do túnel continuam apagadas

No centro da cidade de Lisboa, despertar do confinamento e ir passando pelas fases estipuladas pelo Governo é um banho frio de dura realidade. As rodinhas dos trolleys dos turistas a bater na pedra da calçada portuguesa deixam de ser o som mais ouvido. A música de rua, dos cafés, dos bares, dos restaurantes, das lojas, cala-se. Não se ouve nem um Fado, um género musical especializado em resumir as amarguras dos portugueses na palavra “saudade”, a marca destas canções.

Do coração do centro histórico – onde se encontra a Sé, o Castelo de São Jorge e o bairro típico de Alfama -, aos dois pulmões – que cobrem o Chiado e a Baixa, o Bairro Alto, o Cais do Sodré, o Príncipe Real e São Bento -, não há um órgão vital com saúde suficiente para aguentar o organismo. O centro da cidade está a definhar e, com ele, todos os comerciantes e famílias que subsistem à custa do seu pulsar.

Desaparece o habitual frenesim provocado pela multidão de 16,3 milhões de turistas estrangeiros que, em 2019, serpenteavam pelo país. Uma grande parte costumava ir acotovelar-se para os passeios estreitos do centro histórico da capital. A 1 de Junho, arranca a terceira fase de desconfinamento. Os únicos estabelecimentos encerrados são bares, discotecas, espaços e feiras de diversão, escolas primárias, universidades e as repartições públicas. O comércio opera com horário limite até às 23 horas. A média de novos casos, entre 1 e 18 de Junho, sobe para 300 por dia, aumento que se atribui ao foco preocupante, e ainda ativo, da região de Lisboa, que já obrigou o Governo a tomar novas medidas de restrição da circulação e dos ajuntamentos. O número de mortes, no entanto, baixa: a média estaciona em 5,5 mortes por dia. Os internados, a 18 de Junho, contabilizam 416, dos quais 67 nas UCI.

João Pedro Martinho é um desses casos. Proprietário da Your Lisbon Home, gere 54 apartamentos turísticos, 19 dos quais no Bairro Alto e no Chiado. Diz que o que o salvou da bancarrota foi o mês de Maio e os apartamentos que mantém no Parque das Nações, uma zona nos limites da cidade feita de prédios e arruamentos já do século XXI. Tudo cheira a novo, os espaços são largos, desafogados, de estacionamento fácil. Quase todas as casas incluem uma garagem e variadas comodidades típicas dos edifícios recentes. “São os únicos apartamentos que conseguimos alugar em curta-duração no mercado interno”, revela.

De facto, o turismo de portugueses em escapinhas ou em negócios cá dentro conseguiu arrecadar, segundo avança o Turismo de Portugal, mais de 10 milhões de hóspedes em 2019, quase tantos como a população total portuguesa. João Pedro tem captado este tipo de turistas com a oferta que mais lhes agrada e já assiste aos resultados: “Consegui recuperar os meses perdidos. Finalmente, a empresa equilibrou as contas”, diz.

O centro é outra história. “Os portugueses estão a fugir desta zona que, no entanto, é a favorita do turista estrangeiro. As casas são pequenas, pitorescas, em edifícios construídos há 200 anos ou mais”, explica.

A única solução que encontrou foi alugar os apartamentos ao mês. Não quis ficar à espera do desconfinamento porque acredita que o turismo internacional só retomará lá para 2021. “Aluguei logo em Abril, a valores que antes do confinamento eram impensáveis. Estou a perder cerca de 1.000€ por cada apartamento, todos os meses”, confessa. Arrenda T2 a 900€ quando, ainda em Março, o valor de apartamentos renovados com dois quartos no centro histórico, nunca seria menos de 1500€.

“Os contratos de longa-duração são uma medida temporária porque só me permite cobrir as rendas do senhorio, não se pode pagar salários. A empresa não pode ser o que era, operar da mesma forma e manter 14 postos de trabalho, se continuarmos a trabalhar assim”, diz. Se o mercado do turismo não animar, a empresa terá de sofrer uma forte reestruturação. A esperança de João Pedro é que o verão possa trazer algumas melhorias e alguns estrangeiros. Caso a situação se prolongue, terá de pensar num plano B e começar a focar apenas no mercado interno. E isso, significará abandonar as casas do centro de Lisboa, mantendo apenas as que os portugueses apreciam – as do Parque das Nações. “Mas ainda é muito cedo para conseguir avaliar se será necessário tomar essa decisão”, remata.

A principal preocupação de João Pedro é manter os postos de trabalho: “Demorámos uns anos a criar esta equipa, está muito bem adaptada à nossa filosofia, será um desperdício ter de desmembrá-la.” Portanto, pôs toda a gente em part-time, entre Abril e Maio, com metade do ordenado. “Em Junho já conseguimos aumentar o horário e adicionar 150€ ao salário”, explica.

Atribui a recuperação apenas ao seu esforço e ao da sua equipa. O banco até lhe ligou a oferecer uma linha de crédito de 500.000€ mas cobrava uma taxa de juro de 3%, ou seja, exatamente o mesmo que cobrava em épocas sem confinamentos. Pareceu-lhe que estavam só a fazer negócios como sempre e recusou a “ajuda”.

João Pedro diz que as medidas de apoio do Governo devem ser bem diferentes: “Injetar dinheiro nos bancos para que possam continuar a fazer negócios como de costume, não parece resolvê-lo. Arriscamo-nos a acumular dívida num momento de incerteza. Quem sabe se podemos pagar? Além disso, os bancos só emprestam a quem consideram representar pouco risco.”

A Grande Lisboa enfrenta a possibilidade de novo confinamento

Em conferência de imprensa, à saída do Conselho de Ministros, realizado a 25 de Junho, o primeiro-ministro António Costa dá duas explicações para o assustador aumento de casos na região da capital: realizam-se mais testes e o contágio subiu. Portugal contabiliza 6 mortes e 451 infetados com covid-19, nesse dia. A Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT) conta com 339 destes novos infetados, o que representa 75% do total nacional. Os concelhos de Lisboa, Sintra, Amadora, Loures e Odivelas, os mais preocupantes da RLVT, têm cerca de 68 casos confirmados por cada 10.000 habitantes, enquando o país conta apenas 38,6 por cada 10.000 habitantes.

Costa garante que a situação está sob controle e sublinha o elevado número de recuperados, o baixo número de mortos e lembra que já era “expectável” um aumento no nível de contaminação assim que o país começasse a desconfinar. E Portugal não perdeu tempo: 96% das empresas portuguesas já estão abertas para negócio, bem como 82% de todos os hotéis e restaurantes, segundo dados divulgados pelo INE, no dia 1 de Julho.

O primeiro-ministro também anunciou que a final da UEFA Champions League se realizará em Agosto próximo, em Lisboa. “Um prémio para os profissionais de saúde”, disse à imprensa. A Ordem dos Médicos (OM) recusa-se a ser premiada desta forma. Miguel Guimarães, Bastonário da OM, diz à rádio TSF que “temos de ter cuidado”, acrescentando: “O que está a acontecer em Lisboa – que eu considero estar sob controlo – significa que isto ainda não acabou”. Médicos e enfermeiros têm protestado contra este “prémio” governamental.

Os cientistas não conseguem encontrar uma razão para o que está a acontecer em Lisboa e, alguns, adivinham que a infeção já está enraizada na comunidade. “Temos de ter alguma atenção e não pedir aos cientistas para responderem ao que ainda não sabem. Isto é uma investigação em tempo real”, explica o primeiro-ministro, reconhecendo que existem “opiniões divergentes e até contraditórias” e conclusões que não permitem ter “grande segurança” na hora de tomar opções políticas.

Para garantir que Lisboa não fica descontrolada, impôs um lote de novas restrições nas 19 freguesias da área metropolitana identificadas como as mais afetadas, neste momento, pelos surtos ativos. Continuarão abrangidas pelo estado de calamidade, o que dá ao Governo legitimidade legal para reforçar a fiscalização e impor o recolhimento, caso seja necessário. Por agora, o Governo proibiu os ajuntamentos com mais do que cinco pessoas e atribuiu 10 milhões de euros para um novo programa – Bairros Saudáveis – que pretende higienizar e promover boas práticas nestas freguesias. Os especialistas destacam a coabitação e o ambiente laboral, que frequentemente implica deslocações em transportes públicos apinhados de gente, como fatores principais de propagação do vírus mas o Governo ainda não avançou com medidas concretas para estas situações.

No que sobra da área metropolitana de Lisboa é estabelecido o estado de contingência, de menor gravidade: os ajuntamentos de dez ou mais pessoas e o consumo de álcool na via pública estão proibidos, o comércio fecha às 20h exceto supermercados, que ficam abertos até às 22h e os restaurantes até às 23h.

O resto do país fica em estado de alerta, o estado menos grave na escala da Lei da Proteção Civil, com a proibição de ajuntamentos de mais de vinte pessoas.

As forças de segurança passam a aplicar multas por todo o país e deixam cair, segundo as palavras do primeiro-ministro, “a ação meramente pedagógica” com que agiram até aqui.

Se a intenção é ajudar, como anunciou o primeiro-ministro, existem outras formas. “Portugal vive do turismo”, avisa. De facto, segundo os últimos dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), de 2016, entre os 36 países-membros, Portugal é o que apresenta uma maior percentagem do PIB resultante do setor do Turismo – 12,5%. Em 2017, aumentou para 13,7% e em 2018 pulou para 14,6%, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), que ainda não estão na base de dados da OCDE.

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João Pedro sugere uma alternativa para salvar o setor do turismo, o que mais tem contribuído para o PIB português:

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As burocráticas engrenagens dos subsídios de apoio

André Cristóvão, proprietário de dois restaurantes de hambúrgueres gourmet no Bairro Alto,- A Cultura do Hambúrguer -, também se queixa da falta de apoio governamental e da forma como o têm obrigado a manter o negócio aberto num lugar que continuará às moscas enquanto os turistas não regressarem ou a atividade noturna tiver de encerrar às 23h. “Não se vê vivalma na rua, se servir um almoço já considero que fiz negócio. Tem sido ridículo”, queixa-se. A média da sua faturação diária, desde 18 de Maio, quando foi obrigado a abrir portas e a tirar o pessoal do lay-off, é de 200€. Antes do confinamento, fazia 3.000€ por dia.

André diz que percebe que obriguem os restaurantes a reabrir porque até pode fazer sentido nos lugares com clientela maioritariamente portuguesa. Mas não no Bairro Alto. “Só dá se os bares estiverem abertos até de madrugada, como antes,” explica. E a situação é tão grave que André se vê obrigado a ir alternando as luzes que mantém acesas, para poupar na energia e nas lâmpadas. “Gasto muito para manter a porta aberta. Pago os salários do pessoal da cozinha e da sala, a eletricidade, o gás, a água e os produtos que compro e que depois não vendo, como a carne e os legumes.”

Os apoios do governo, resumem-se aos lay-off para os seus funcionários. André, como sócio-gerente, não tem direito a esse apoio. As linhas de crédito anunciadas pelo governo também não provocam qualquer melhoria no estado das suas finanças, como explica:

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“Tinha 29 pessoas a trabalhar, agora tenho 9. Os contratos estavam a esgotar-se e eu não os renovei”, revela. “No primeiro mês, ainda tentei aguentar, acreditei que o governo seria capaz de fazer alguma coisa para compensar esta hecatombe”, acrescenta. Podia ter terminado a relação de trabalho com 5 dos seus empregados já em Abril, mas contra os conselhos do contabilista, optou por não o fazer. Com o passar do tempo, percebe que o governo não vai acrescentar muito mais e o apoio que existe nunca será suficiente.”Não há solidariedade na Europa ou entre os portugueses. Tive de entender que lutar para que outros não percam o seu sustento é um erro que pode colocar o sustento da minha família em perigo. Não posso apoiar todos sozinho. Precisam da minha ajuda e eu preciso da ajuda dos outros para poder ajudar. Infelizmente, ajudar não se encaixa na forma como organizámos a resposta a esta pandemia”, conclui.

As famílias sustentam-se com o valor estabelecido pelo lay-off, uma medida governamental, ainda em vigor em alguns casos, que atribui dois terços do salário habitual. O Estado, através da Segurança Social, garante 70% deste valor e 30% tem de ser pago pela entidade patronal. Estipula-se um teto máximo: os 46,66% referentes à parte do ordenado garantido pelo Governo aplicam-se, apenas, até dois ordenados mínimos (1270€). Na prática, o subsídio nunca ultrapassa os 593€, menos do que o ordenado mínimo (635€). Os pais com filhos menores de 12 anos são automaticamente abrangidos por este mecanismo, bem como todos os trabalhadores de empresas obrigadas a encerrar temporariamente. As empresas que operam por teletrabalho também podem optar pelo lay-off se o trabalhador for necessário apenas a tempo parcial. Os trabalhadores independentes são igualmente abrangidos e, mais tarde, os gerentes de micro negócios com faturação até 80.000€ anuais: recebem 46,66% da média de rendimento mensal do ano anterior. No entanto, é necessário não ter qualquer tipo de dívida.

Linhas de crédito

O Governo anunciou linhas de crédito de 3.000 milhões de euros com condições especiais, um período de carência até ao final do ano e a possibilidade de ser amortizado em quatro anos.

A restauração e similares recebem 600 milhões de euros dos quais 270 milhões para micro e pequenas empresas; o setor do turismo, nomeadamente agências de viagens, animação e organização de eventos e similares, fica com 200 milhões de euros, 75 dos quais para micro e pequenas empresas; o alojamento turístico leva 900 milhões de euros, 300 para micro e pequenas empresas; e a indústria, têxtil, vestuário, calçado, indústrias extrativas e da madeira, arrecada 1.300 milhões de euros, 400 para micro e pequenas empresas.

As empresas têm de apresentar um balanço positivo da sua atividade de forma a poderem aceder às linhas de crédito distribuídas pelos bancos. André ainda está a abater o investimento feito para abrir o seu segundo restaurante, o balancete só tem números a negativo. “O banco obriga-me a preencher resmas de papelada, pede quilos de documentação, falta sempre alguma coisa, passo semanas nisto. Finalmente, dizem-me que só tenho direito a 10.000€, o mesmo que três dias de rendimento pré-covid. Acontece que só podem contar com os números do meu primeiro restaurante. Sinto-me gozado”, revolta-se.

Para André, o país falha no apoio às empresas e faz muito pouco para ajudar as famílias.

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As Casas-Fantasma

Elquisson Menezes, um português que chegou do Brasil em 2007, viu uma oportunidade de melhorar as condições de vida no turismo vibrante de Lisboa. Decidiu alugar três apartamentos na zona da Baixa e convertê-los em 11 quartos turísticos para arrendamento de curta duração. Costumava faturar uma média a rondar os 9.000€ por mês. Actualmente, tem apenas 4 quartos ocupados – arrendou-os em longa duração, consegue retirar 1.300€ mensais, quantia que diz ser insuficiente para cobrir as rendas que tem para pagar ao senhorio.

Continua a tentar arrendar os quartos vagos mas não tem sido fácil. “É um modelo pouco atrativo para o português. E, ainda por cima, há muita concorrência dos apartamentos que antes eram turísticos e que entraram no mercado do arrendamento mensal porque também deixaram de ter turistas”, explica.

Com as casas quase vazias, Elquisson vale-se do pé de meia que conseguiu acumular antes da pandemia. Mas está preocupado, acha que o dinheiro só durará mais três meses. “Vou ter muita dificuldade em pagar a renda do lugar onde vivo. Ainda são 800€,” aflige-se.

Nunca ouviu falar do apoio do Governo às rendas, através doIHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana), que promete uma linha de crédito sem juros para a população em dificuldade conseguir liquidar as rendas de Abril, Maio e Junho. Os empréstimos são pagos em 36 prestações, a partir de Janeiro de 2021. Para se aceder ao apoio, o candidato tem de provar que houve quebra nos seus rendimentos mensais. O processo tem-se revelado demorado e ainda há famílias que continuam com as rendas por saldar, à espera da aprovação do instituto.

A divulgação deste apoio não chega aos ouvidos de Elquisson, que tentou negociar as suas rendas com o senhorio. “Respondeu-me que vive desse dinheiro, é a sua única fonte de rendimento e diz que não me pode ajudar porque, a ele, também ninguém ajuda.”

Pacotes de descontos para turistas nacionais

A Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa(ERT-RL) apresentou um programa de apoio ao turismo que dá descontos aos residentes e aos portugueses de outras zonas do país que pretendam passar uns dias de férias na zona da capital.

Assim, entre Julho e Setembro, haverá cartões de acesso aos principais museus, monumentos e atracções por 12,5€. Jantar e ouvir Fado ao vivo numa casa de fado custará 25€, observar golfinhos em passeios de barco ou fazer enoturismo será 20€. Para comprar pacotes de duas noites, para duas pessoas, com pequeno almoço incluído, bastará desembolsar 160€.

Para comprar pacotes de duas noites, para duas pessoas, com pequeno almoço incluído, bastará desembolsar 160€.

Com esta iniciativa, a ERT-RL quer tentar aguentar as empresas do sector do turismo de Lisboa. “Estamos a passar uma fase muito complicada”, disse Vítor Costa, presidente da ERT-RL, à revista Time Out. A ideia é obter resultados imediatos para o tecido empresarial nacional e aprofundar a relação dos portugueses com a oferta turística do país. “Há quanto tempo não vamos a uma casa de Fados ou aos nossos museus? Se calhar, há muito que não o fazem”, apelou, em declarações à mesma revista.

O programa estará activo a partir da última semana de Junho e inclui 85 hotéis e empreendimentos turísticos, 14 empresas de animação turística, 16 casas de Fado e também rent-a-cars.

Segundo um estudo da Savills em parceria com a HomeAway, concorrente da Airbnb, metade das segundas casas em 2018 foram compradas com alugueres curtos em mente. O estudo, que ouviu 7800 proprietários e 6800 viajantes em Portugal, mas também o Reino Unido, EUA, Espanha, Canadá, França, Itália, Holanda, Nova Zelândia e Brasil, mostra que as duas principais motivações para os cidadãos que alugam a sua residência secundária são: obter um rendimento adicional (37) e suportar os custos de manutenção do alojamento (34).

Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local de Portugal (ALEP) disse, aojornal I, que o AL já representava perto de 50% das dormidas em Lisboa e no Porto.

A freguesia da Misericórdia, por exemplo, que inclui zonas como Bairro Alto, Santa Catarina, São Bento e Príncipe Real, tem cerca de 45% das suas habitações afeto a negócios de alojamento turístico – há quase tantos hotéis, hostels, guest houses e alojamentos locais como casas para habitar.

Tomás Berger gere três apartamentos turísticos no centro histórico e também anda a ver o negócio a andar para trás. Mas continua com esperança de inverter o desastroso curso dos acontecimentos:

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A excepção à regra

Amândio Oliveira, do Quiosque Príncipe Real – conhecido como O Quiosque do Oliveira-, reabre no dia 18 de Maio, quando arranca a segunda fase de desconfinamento. Rapidamente percebe que os seus clientes, essencialmente compostos pelos moradores da zona, estão ansiosos para regressarem à esplanada.

O espaço enche imediatamente e Oliveira consegue uma proeza reservada a muito poucos nesta área da cidade – não diminui o volume de vendas. “Noto que estou com mais sorte do que os meus colegas dos cafés e restaurantes em volta porque tenho este espaço no jardim, ao ar livre. As pessoas estiveram muito tempo fechadas, estavam a precisar de vir à esplanada beber uma imperial fresquinha ou um café expresso”, conta. Mas adianta outra razão para continuar a vender um barril de cerveja e um quilo de café, por dia: “Os clientes sentem-se mais seguros na rua do que dentro de um café.”

O quiosque está situado mesmo em frente ao Jamie´s Italian, um restaurante de luxo, com dois andares, que pertence ao cozinheiro britânico Jamie Oliver, conhecido internacionalmente pelos seus programas de Tv e livros de gastronomia. Até chegar o confinamento, era um lugar trendy, com grupos de pessoas do lado de fora, à espera de entrar. Agora, está praticamente vazio.

Oliveira acha que tem sorte em não ter uma super-estrutura para sustentar. “Acabará por ajudar na recuperação da faturação que perdi durante os dois meses em que estive fechado. Isto é uma micro-empresa, só cá trabalho eu e a minha mulher. Nem tive de me preocupar com salários de funcionários.”

A lei que obriga a manter uma distância de dois metros entre mesas também não o afeta porque basta espalhar a esplanada pelo jardim, sem ter de reduzir o número de lugares. “Os espaços maiores, aqui no centro, terão mais dificuldade – têm rendas demasiado altas. Também não sustento cozinhas, só sirvo cafés, imperiais, águas e sumos, uns salgadinhos e uns bolos. É totalmente diferente e acho que é o que vai safar-me,” conclui.

Cheios de tempo nas mãos

O centro de Lisboa está um deserto. Vários estabelecimentos – especialmente as pequenas lojas de vestuário, calçado e os micro-bazares, já encerraram de vez e é cada vez mais frequente encontrar anúncios de aluga-se ou vende-se presos ou colados nas janelas do centro histórico.

Mónica Sousa, aproveita o imenso tempo disponível para fazer pequenas remodelações e alguma bricolage no seu bar-pizzaria do Bairro Alto. Prepara-se para pintar uma das paredes interiores, enquanto se queixa:

Tem sido uma tristeza. Gasto 400€ só para manter o forno das pizzas aceso e não há clientes.

Mónica Sousa

Bar-pizzeria owner

Cristina Freitas, aka Dj CiCi, também não tem emprego desde o confinamento. “Tenho tentado perceber se tocar música numa plataforma online seria uma alternativa viável, mas não é. Aqueles que tentaram, falharam. Não vejo outra maneira de ganhar dinheiro nestas circunstâncias. E o Bairro Alto continua fechado à noite”, diz, lamentando.

Nuno Bessa,condutor de um TUK TUK que faz tours turísticos pelo centro da cidade, não está melhor. Regressou ao trabalho a 10 de Junho mas continua com a viatura parada. “São 5 da tarde, estou aqui desde as 9 da manhã, ainda não saí do mesmo lugar.”

Insiste em gravar a sua entrevista em inglês para se certificar de que os potenciais turistas percebem os problemas que tem enfrentado e as vantagens de visitar Portugal. “Conseguimos controlar os números da pandemia, é um dos destinos mais seguros do mundo”, adianta, preparando-se para o vídeo e avisando que, se os turistas não aparecerem, sobrará o vácuo.

Há testagem suficiente?

Com o arranque do estado de alerta, e com o planeta a esgotar os stocks de kits de testagem, o Ministério da Saúde começa por testar apenas aqueles que chegam aos hospitais. No fim de Março, todas as pessoas com tosse persistente, febre acima de 38oC ou dificuldade respiratória passam a ser testadas. Entre 1 de março e 10 de abril são realizados 151.113 testes de diagnóstico, dos quais 17.083 (11,3%) dão positivo, revela o Ministério da Saúde que, a 12 de Abril, também anuncia que terá cerca de 900 mil testes brevemente, para serem “imediatamente” usados No entanto, no fim de Maio, António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde, revela que teriam sido realizados pouco mais de “770 mil testes de diagnóstico de covid-19″.

Mesmo assim, a OCDE posiciona Portugal em quinto lugar do top dos países com mais capacidade de testagem à covid-19. Dados divulgados no final de Abril, colocam o país abaixo da média, mas o método de contagem é alterado e, a 13 de Maio, Portugal passa a surgir no topo da lista. Entre os dias 1 e 10 de Maio, o país realiza, em média, mais de 13 mil testes por dia.

O primeiro-ministro António Costa garante, a 13 de Maio, que Portugal conta com “um sistema robusto, com capacidade de testagem” e é “o quarto país com mais testes por milhão de habitantes – especificamente 58.482 testes.” Só a Lituânia, o Chipre e a Dinamarca fazem mais testes que Portugal.

Costa assegura que a situação está sob controlo e sublinha o alto número de recuperados, o baixo número de óbitos e lembra que sempre foi “expectável” ver as contaminações a alastrar assim que se começasse a desconfinar.

Os cientistas não conseguem encontrar uma razão para o que está a acontecer em Lisboa e, alguns, adivinham que a infeção já está enraizada na comunidade. “Temos de ter alguma atenção e não pedir aos cientistas para responderem ao que ainda não sabem. Isto é uma investigação em tempo real”, explica o primeiro-ministro, reconhecendo que existem “opiniões divergentes e até contraditórias” e conclusões que não permitem ter “grande segurança” na hora de tomar opções políticas.

Para garantir que Lisboa não fica descontrolada, impôs um lote de novas restrições nas 19 freguesias da área metropolitana identificadas como as mais afetadas, neste momento, pelos surtos ativos. Continuarão abrangidas pelo estado de calamidade, o que dá ao Governo legitimidade legal para reforçar a fiscalização e impor o recolhimento, caso seja necessário. Por agora, o Governo proibiu os ajuntamentos com mais do que cinco pessoas e atribuiu 10 milhões de euros para um novo programa – Bairros Saudáveis – que pretende higienizar e promover boas práticas nestas freguesias. Os especialistas destacam a coabitação e o ambiente laboral, que frequentemente implica deslocações em transportes públicos apinhados de gente, como fatores principais de propagação do vírus mas o Governo ainda não avançou com medidas concretas para estas situações.

No que sobra da área metropolitana de Lisboa é estabelecido o estado de contingência, de menor gravidade: os ajuntamentos de dez ou mais pessoas e o consumo de álcool na via pública estão proibidos, o comércio fecha às 20h exceto supermercados, que ficam abertos até às 22h e os restaurantes até às 23h.

O resto do país fica em estado de alerta, o estado menos grave na escala da Lei da Proteção Civil, com a proibição de ajuntamentos de mais de vinte pessoas.

As forças de segurança passam a aplicar multas por todo o país e deixam cair, segundo as palavras do primeiro-ministro, “a ação meramente pedagógica” com que agiram até aqui.

“O centro da cidade arrisca-se a permanecer vazio durante muito, muito tempo”, diz Nuno. Assim como os bolsos dos portugueses que, cada vez mais, só parecem conseguir encher-se de esperanças e muitas dívidas. Mas quem sabe se o facto de Lisboa ter sido a cidade europeia com mais reservas de voos na primeira metade de Junho, segundo garante o World Travel and Tourism Council, trará mais do que isso? Fica o apelo:

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