Coronavírus na Alemanha: o opaco caminho para a normalidade
Em comparações internacionais, a Alemanha obteve um dos melhores desempenhos durante a pandemia de coronavírus. No entanto, suavizar as medidas de restrição transformou-se numa corrida entre os seus estados federais.

Texto, fotos e vídeos: Lena Reiner and Niklas Golitschek

Cornelia Dürkhäuser mal podia acreditar nesta notícia. Costuma passar a maior parte do tempo na unidade de terapia intensiva de um hospital perto de Dresden mas, a meio da pandemia de coronavírus – a 15 de abril -, foi enviada para um trabalho de curta duração. “Disseram-nos uma semana antes. Fiquei bastante atordoada, zangada também”, diz, continuando: “Como é possível que, durante a gestão da crise do Corona, as camas estejam vazias, os tratamentos não sejam realizados, os funcionários sejam enviados para trabalhos de curta duração por falta de ocupação, porque – desculpe a expressão – não há pacientes com Corona gravemente doentes?

Não é que não seja positivo que, na Alemanha, houvesse menos doentes graves de Covid-19 do que se supôs inicialmente. Mas, ao mesmo tempo, Dürkhäuser considera que há alguma urgência e que é importante disponibilizar os recursos a outro tipo de tratamentos.

Será que os locais de cuidados intensivos poderiam ser melhor coordenados e, por exemplo, redistribuídos pelo país? “Havendo vontade, muito é possível”, responde a médica, que também avisa: “Mas envolve um grande esforço logístico: não se transporta pacientes dos cuidados intensivos com uma ambulância qualquer”. Além disso, o transporte representa sempre riscos acrescentados para a saúde dos doentes de risco.

Há outra razão pela qual Cornelia Dürkhäuser está em casa e se limita a esperar por um regresso ao trabalho: o desenvolvimento no sector de saúde na Alemanha é “muito absurdo”, diz. “Até há quatro semanas, nunca esperaria ver-me ameaçada por trabalhos de curta duração. Pelo contrário, o aumento da carga de trabalho foi sempre constante, desde o início da minha carreira.” E, ainda assim, nunca deu pelo colapso iminente do sistema de saúde, frequentemente discutido nos meios de comunicação social por causa do coronavírus. “Pelo menos, não em todo o país e não devido ao Corona”, acrescenta. Mas reconhece que esse colapso pairou durante anos por causa das políticas de recursos humanos e por causa da austeridade forçada.

“Não há necessidade de registar trabalhos de curta duração.” – Declaração do Marburger Bund (Associação de Médicos)

“Sabemos pelos inquéritos feitos aos associados que os médicos que trabalham em hospitais fazem cerca de 65 milhões de horas extraordinárias, todos os anos. Compensar com tempo de lazer em consultas com colegas é certamente mais sensato do que ter de se candidatar a um trabalho de curta duração, no caso de existir menos carga de trabalho”, explica a Associação Federal da Confederação de Marburg num comunicado, acrescentando: “Sempre que o número de pacientes seja menor, é importante educar os funcionários e treiná-los para o tratamento de pacientes com COVID-19. ” Em resposta a uma pequena pergunta da fração de Die Linke (esquerda alemã) no parlamento, o Governo Federal também declarou que o trabalho de curta duração “não era necessário para garantir a liquidez do hospital”. Por exemplo, os hospitais recebem uma taxa fixa de 560 euros por cada cama desocupada, por dia, através do fundo de resgate hospitalar, que também inclui compensação pelos custos com pessoal. A Sociedade Hospitalar Alemã confirma.

“Não se arruma o assunto com aplausos e bónus pontuais”, acrescenta. É essencial ter melhores condições de trabalho e remuneração sustentável. Além disso, a população tem de deixar de recorrer “às emergências, às três da manhã, só porque se espetou numa lasca de madeira. Infelizmente, esses casos são bastante comuns e, na verdade, não deviam caber numa sala de emergência. “ No entanto, Dürkhäuser tem lidado mais com mal-entendidos públicos sobre processos médicos, especialmente as discussões sobre o coronavírus, do que com trabalhos de curta duração. “Há muitas coisas na vida profissional de um médico de cuidados intensivos que a população normalmente não conhece mas que passaram, de modo repentino, a serem comunicadas publicamente No entanto, são constantemente mal interpretadas”. Ela cita a triagem como exemplo: isso é usado quando o número de pacientes doentes ou feridos excede a capacidade de resposta física e temporal: “Aplica-se a uma queda de avião, um desastre natural e também a uma doença infecciosa”. Na comunicação social, o método é descrito como “os médicos simplesmente deixam os pacientes morrerem”. No que toca aos cuidados paliativos e à morte assistida, é necessário um procedimento médico intensivo bem elaborado. Na prática, o médico tem visto a sua profissão desacreditada e tem sido obrigado a enfrentar acusações injustificadas. “O que complica o nosso trabalho diário”, enfatiza Dürkhäuser.

Decisões incompreensíveis sobre o controle de coronavírus

A enfermeira de cuidados intensivos Kathrin Seif não tem estado clinicamente ativa e aborda outros aspectos: “A abordagem à pandemia foi apressada e pouco transparente tornando as decisões políticas incompreensíveis. Foi imposto o confinamento, introduziu-se a obrigatoriedade de uso de máscara após semanas de pandemia e optou-se por multas no caso de haver quem não se conforme.” O público carecia de justificações para estas medidas. Em vez de explicações dos governantes, Seif observou uma enxurrada de informações que causaram pânico na população: “Neste momento, continua a haver muitas coisas que não são bem explicadas ou compreendidas por todos os indivíduos”.

Como especialista, enfatiza que uma doença como esta não deve ser subestimada, mas também não há razão para se entrar em pânico. Embora as máscaras se tenham tornado escassas e usadas por mais tempo do que o habitual, as medidas de higiene foram, no entanto, relativamente viáveis. “Conseguimos lidar com outras epidemias no passado. A Alemanha está muito bem posicionada no setor de saúde. Os nossos profissionais são até admirados no exterior por saberem lidar tão bem com o vírus.”

“Para ser direta”, a política só tomou conhecimento do trabalho que o pessoal médico na Alemanha realiza diariamente através da pandemia. “A nossa profissão, médicos ou enfermeiros, está subitamente no centro das atenções”, diz Seif. Nunca antes os profissionais de saúde tinham recebido tanto reconhecimento quanto hoje, mesmo que já o desejassem há muito tempo. “Lutamos por mais funcionários, mais salários e mais reconhecimento justificado, há vários anos”, diz. Infelizmente, até hoje, os pagamentos de bónus apenas foram anunciados, ainda não está claro quem pagará o dinheiro prometido. “Por agora, só a recompensa da Baviera é certa.”

Apoio aos países vizinhos

Até agora, a Alemanha passou relativamente bem pelas semanas da pandemia. Mesmo levando em conta que o governo impôs restrições de contato muito mais moderadas do que os países vizinhos. As camas de cuidados intensivos nunca foram totalmente utilizadas e até foi possível que alguns dos hospitais alemães recebessem pacientes covid-19 da França ou da Itália.

Unidos no confinamento, divididos a desconfinar

Na Alemanha, houve acordo sobre o confinamento, exceto em determinados detalhes do modelo escolhido, mas os 16 estados federais discordaram quanto à flexibilização das restrições. No sistema federal, os estados têm amplos poderes para decidir por si. No entanto, conseguiram concordar que deveriam ser implementadas medidas mais rigorosas em municípios e cidades com mais de 50 novas infecções confirmadas por 100.000 habitantes e, também, na avaliação das medidas, a cada semana. Exceção feita a Berlim (30) e à Baixa Saxónia (30-35), que estabeleceram os seus próprios limites. Ainda assim, os jogadores profissionais de futebol têm autorização para terminar a temporada do campeonato, a partir de meados de Maio.

Já os restaurantes e empresas de turismo, jardins de infância, escolas ou instituições culturais lidam com uma política de reabertura bem diferente – e para os setores afetados o desconfinamento é feito quase de surpresa, com um prazo de aviso demasiado curto. Às vezes, os detalhes das novas medidas de proteção contra a infeção são reveladas com apenas um dia de antecedência. Os políticos defendem-se dizendo que, desta forma, podem responder à situação específica de determinada região e tomar as medidas mais acertadas.

Regras confusas

As diferentes regulamentações existentes na Alemanha despoletaram confusões em alguns lugares. Em Bremen, que é uma cidade-estado completamente rodeada pela Baixa Saxónia, por exemplo, os restaurantes tiveram que se manter fechados por mais uma semana do que os municípios à volta. A Baixa Saxónia, por outro lado, anunciou uma obrigação que, afinal, era apenas uma recomendação. “Não sabíamos como seriam os horários de funcionamento. Inicialmente, estipulou-se até às 22:00, depois passou a ser até ao fim da noite”, diz um proprietário de um restaurante. As instituições culturais e as piscinas nacionais ao ar livre espalhadas pelo o país também ainda não sabem como implementar, rigorosamente, os requisitos.

Decisões judiciais

Muitas das restrições foram agora declaradas ilegais por tribunais na Alemanha. O Tribunal Superior Administrativo da Saxónia, por exemplo, recusou os 800 metros quadrados de limite para as lojas de distribuição. O Tribunal Superior Administrativo da Baixa Saxónia suspendeu a quarentena obrigatória para os viajantes vindos de fora do país. Na Baviera, o Tribunal Administrativo levantou as restrições do confinamento– conduzir uma lancha passou a ser considerada uma razão válida para sair de casa – e impôs multas para quem violar a proibição de contato.

Maior pacote de ajuda da história

Através do maior pacote de ajuda da história da Alemanha, o Governo Federal tem apoiado empresas e trabalhadores independentes: O Ministério Federal das Finanças estima que o montante total incluído no orçamento será de 353,3 bilhões de euros, além dos 819,7 bilhões de garantias. Os trabalhadores independentes também podem solicitar assistência social através de um procedimento simplificado e as empresas podem pôr os seus funcionários em regime de part-time. Ao mesmo tempo, foi iniciado um debate sobre até que ponto as empresas cujas operações são prejudiciais ao meio ambiente devem ser apoiadas.

Mais do que preto e branco

A enfermeira de cuidados intensivos Marie Krzykalla fala das más interpretações provocadas pela forma como a comunicação social fala dos procedimentos médicos e troca impressões com alguns colegas: “O facto de a medicina ser retratada a preto e branco incomoda-nos”. Como exemplo extremo, Krzykalla cita um título no jornal Bild: “Pessoas morrem do ventilador”. “Basicamente, isso até é verdade, pessoas morrem do ventilador. Mas morrem, não por causa do ventilador, mas sim apesar do ventilador”, esclarece. Entretanto, foi demonstrado que a maioria dos doentes que precisavam de um ventilador no curso da doença de Covid-19 só precisava temporariamente.

Krzykalla vê algum perigo neste medo dos ventiladores: “Talvez as pessoas com sintomas que, quanto mais cedo fossem tratadas, precisassem de tratamentos menos invasivos, tivessem procurado um médico ou o hospital muito mais tarde, por medo; isto pode ter um efeito perigoso, é como jogar à roleta russa.”

No vídeo, ela descreve como a sua enfermaria procede actualmente perante o coronavírus e como funciona a ventilação:

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Até agora, o sistema de saúde na Alemanha resistiu à pandemia de coronavírus. Além das restrições de contato, a causa tem principalmente a ver com os enfermeiros e com a sua enorme dedicação. No últimos dois anos, Krzykalla tem trabalhado como enfermeira de cuidados intensivos num hospital especializado em doenças pulmonares e assiste, com os seus próprios olhos, ao que pode significar contrair Covid-19. Recentemente, partilhou as suas experiências no Facebook e recebeu muito incentivo dos colegas por uma das publicações. No entanto, também chamou os teóricos da conspiração à cena. “Agora, costumo colocar o email em modo privado à noite, para não me preocupar com quem vai ler enquanto durmo”, revela.

É por isso que uma divulgação compreensível sobre coronavírus é de grande importância. Krzykalla cita o podcast do virologista Christian Drosten como um exemplo positivo, embora sua linguagem, às vezes, seja “muito médica”. Gostava de ver um formato que usasse vocabulário ainda mais simples mas sabe como é difícil explicar: “Não se pode ensinar mal as pessoas, não há sintomas uniformes, um curso da doença uniforme ou uma droga universal”.

Quando lhe perguntam sobre o que acha dos debates atuais sobre a redução de medidas de proteção contra infecções, dada sua experiência com Covid-19, responde: “Em primeiro lugar, é importante que as pessoas sejam informadas com muito mais precisão por que é que a medida foi introduzida”.

Restrições de contato por causa da carga adicional de coronavírus

Laura Härer, enfermeira, 31 anos, trabalha numa casa de repouso em Saulheim, perto de Mainz, e lidou com pacientes de covid-19. Tem sofrido o impacto das medidas de maneira particularmente forte. Para os residentes da casa de repouso, assim como para os enfermeiros, as restrições de contato e as proibições de visitas são um desafio adicional. “É surpreendente o impacto que têm as visitas de parentes e conhecidos. Nunca antes tinha ascendido a esta escala ”, diz.

Seja comendo juntos, dando um passeio ou apenas sorrindo: “As visitas diárias fornecem orientação”, diz Härer. A proximidade física é particularmente importante: “Uma criança pode, simplesmente, transmitir a doença com o melhor amor e a proximidade mais apetecível”. A proibição de visitas elimina o perigo mas obriga os enfermeiros a compensar a falta de contato. Prestar mais atenção aos residentes tornou-se ainda mais importante, assim como aumentar o esforço e as obrigações com documentação. Ao mesmo tempo, máscaras e roupas protetoras dificultam o contato pessoal e a disponibilidade, diz Härer. “Fazem do acto simples de sorrir aos residentes uma coisa impossível.“

A situação é incomum para os trabalhadores qualificados e ainda mais difícil de gerir, pois os contatos sociais estão praticamente inativos.

“As compensações pessoais são importantes porque o nível de stress está a aumentar, especialmente entre os trabalhadores essenciais.”

Laura Härer

Enfermeira especializada na Terceira Idade

Por agora, não é possível levar uma vida equilibrada.

A única coisa que ajuda é quando as pessoas aplaudem das suas varandas. Härer ficou muito contente com o reconhecimento. “Mas isso não resolve as condições trágicas que existem na nossa área de trabalho”, diz. Härer chega a desconfiar de que essa é a única razão para os enfermeiros andarem a ser apelidados de heróis. “Muitos aceitam trabalhar em condições difíceis apenas por causa dos residentes e por honra profissional”. Acredita que o seu setor tem tido muita sorte em poder contar com profissionais que ultrapassam os próprios limites no que toca a situações de emergência.

Tal como Seif, Härer está particularmente preocupada com o fato de cada estado lidar de maneira diferente com a carga extraordinária de trabalho que recaiu sobre os enfermeiros por causa do coronavírus. Uns prometem bónus, outros optam por refeições pagas, muitos falam do apoio do Seguro de Saúde de Serviço Médico (MDK). “Não se está a regulamentar uniformemente mas deveria ser igual em todo o país”, diz Härer. Também acredita que, para melhorar as condições a longo prazo, o financiamento do setor da saúde deve ser alterado: “É a única maneira de elevar o nível”. E isso inclui melhores salários e mais reconhecimento pelo trabalho. Ao mesmo tempo, os benefícios teriam que permanecer acessíveis para as pessoas afetadas, e os custos adicionais não deveriam aumentar. Os especialistas deveriam ser chamados para procurarem as soluções que possam tornar tudo isto possível.

Desenvolvimentos rápidos

O paramédico Andreas Durner também concorda com essas medidas. “A tendência de evolução tem sido rápida nas últimas semanas”, diz. Há novas descobertas, os processos foram regularmente optimizados e alterados na instituição onde trabalha – tudo é bem-vindo. É exatamente por isso que afirma que o debate sobre o afrouxamento das restrições é importante e correto, e considera bastante útil definir diretrizes para distância, higiene e máscaras. Mas sublinha:

Devemos pensar bem nas etapas e não reagir demasiado rapidamente.

Andreas Durner

Médico de emergência

Durante esse período de alterações rápidas, o radiologista Prof. Dr. Götz Richter lidou com os efeitos do coronavírus no corpo humano. Richter dirige o Centro de Diagnóstico do Hospital de Estugarda, uma clínica para radiologia de diagnóstico e de intervenção, que, recentemente, recebeu um louvor do Comité de Ética pelos métodos que utiliza.

A área da medicina em que é especializado foi capaz de analisar como o vírus danifica os pulmões. Richter afirma: “Em termos simples, pode-se dizer que a idade do paciente não importa quando chega aos pulmões”. A sua clínica determinou, desde o início, que os jovens também poderiam morrer do vírus. Com base nos dados dos infectados, uma equipe interdisciplinar está agora a analisar as possíveis consequências a longo prazo, em diferentes faixas etárias.

Pesquisa a dar os primeiros passos

Embora a política e a sociedade falem principalmente sobre flexibilização e medidas, as pesquisas sobre o coronavírus ainda estão a dar os primeiros passos. “Até ao momento, sabemos apenas o que aconteceu com a pandemia de SARS há 15 anos. Isso inclui danos pulmonares graves e permanentes. O que é assustador”, diz Richter. É por isso que boa ciência é tão importante como o relaxamento gradual e cauteloso das restrições de contato.

Para poder avaliar a situação seriamente, são necessários estudos. “Para começar, os estudos de prevalência são uma componente extremamente importante na avaliação da pandemia e são fundamentais para muitas decisões”, diz Richter. Apesar das críticas ao estudo de Heinsberg, os dados apurados permitem que tire uma conclusão no caso de persistir a nova suposição de pouco menos de 0,4% na taxa de mortalidade entre os infectados.

Com base na teoria da imunidade de rebanho, seria plausível esperar 50 milhões de infectados na Alemanha e cerca de 200.000 mortes. “Mas essas pessoas poderiam passar três semanas nos cuidados intensivos”, observa Richter. No entanto, esse não é o único motivo para Richter não achar a medida praticável:

“Mesmo que a medida pudesse ser estendida por um ano inteiro, o sistema entraria em colapso. Isso é algo com o qual os formuladores de políticas precisam de lidar.”

Prof. Dr. med. Götz Martin Richter

Radiologista, Centro de Diagnóstico do Hospital de Estugarda

Apesar de os debates científicos, nas últimas semanas, terem sido organizados, principalmente, pelos virologistas Drosten, Kekule e Streeck, Richter aponta um discurso contaminado pelos órgãos de comunicação social. “Muitas pessoas são ouvidas, há várias vozes, o que nem sempre é fácil para os leigos entenderem”, diz, “e existem disciplinas bem diferentes.”

Mas tão importante quanto a diversidade de relatos é que os cientistas consigam explicar as suas descobertas da maneira mais compreensível possível. “Nenhum cientista pode esperar que os representantes da comunicação social ou que o ‘cidadão comum’ entendam a linguagem científica”, diz Richter.

A comunicação deve ocorrer

A psicóloga social e económica, Prof. Dr. Anja Achtziger, da Universidade Zeppelin, em Friedrichshafen, vê a questão de forma semelhante: “Grande parte da ciência é financiada pelo dinheiro dos contribuintes. Então, parece-me natural que a população deva ter acesso ao que está a ser feito e perceba como o nosso trabalho pode beneficiar a sociedade. ” Especialmente em épocas e sobre tópicos fáceis de levar as pessoas a apaixonarem-se por teorias conspiratórias infundadas. Os relatórios qualitativos são importantes assim como encontrar uma argumentação objetiva sobre assuntos científicos. Em contextos complexos, isso nem sempre é fácil. “Mas essa comunicação deve ocorrer, especialmente em crises de longo prazo”. Também se deve abordar, abertamente, as dúvidas ainda por resolver e as várias explicações que vão surgindo acerca de um mesmo fenómeno. Para que tal aconteça, a população também terá de ter alguma paciência e compreensão: “Algumas coisas, simplesmente, levam tempo”.